INPI reconhece cafés paulistas e amplia o mapa das Indicações Geográficas do Brasil

Nova Alta Paulista e Torrinha conquistam registro de Indicação de Procedência, elevando para 14 o número de regiões cafeeiras protegidas no país.


Novas origens reconhecidas pelo INPI

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu, entre junho e outubro de 2025, duas novas Indicações Geográficas (IGs) para cafés arábica do estado de São Paulo: Nova Alta Paulista e Torrinha.

Os registros, ambos na modalidade Indicação de Procedência (IP), ampliam para 14 o número total de regiões cafeeiras oficialmente reconhecidas no Brasil — o maior entre os produtos agrícolas nacionais.

As concessões foram publicadas na Revista da Propriedade Industrial (RPI) e consolidam o avanço de políticas voltadas à valorização da origem, rastreabilidade e proteção coletiva dos produtores.


O que é uma Indicação Geográfica (IG)

Uma Indicação Geográfica (IG) é um instrumento jurídico de propriedade industrial que identifica produtos ou serviços originários de um local específico — reconhecido por suas qualidades, reputação ou características particulares.

Regulamentada pela Lei nº 9.279/1996 (Lei da Propriedade Industrial) e administrada pelo INPI, a IG garante proteção legal ao nome geográfico e confere aos produtores o direito exclusivo de usá-lo conforme critérios técnicos.

No Brasil, as IGs se dividem em duas categorias:

  • Indicação de Procedência (IP): quando o nome geográfico se tornou conhecido pela tradição produtiva ou reputação da região (ex.: Alta Mogiana, Nova Alta Paulista).
  • Denominação de Origem (DO): quando as qualidades do produto derivam essencialmente de fatores naturais e humanos do território (ex.: Mantiqueira de Minas, Caparaó).

Em resumo: a IG funciona como uma marca coletiva da origem, garantindo autenticidade, reputação e proteção jurídica contra usos indevidos — além de valorizar o território e o trabalho de quem o cultiva.


Onde nasce o novo café de origem paulista

Nova Alta Paulista abrange 23 municípios do oeste paulista, incluindo Dracena, Tupi Paulista e Pacaembu.

O pedido foi apresentado pela Associação dos Produtores Rurais de Pacaembu e Região (APRUP), com apoio técnico do Sebrae-SP e de universidades locais.

O processo envolveu a elaboração de um Caderno de Especificações Técnicas (CET), documento que define práticas agrícolas, critérios de qualidade, rastreabilidade e governança.

Torrinha, na região central do estado, tmabém obteve o reconhecimento em junho de 2025, cobrindo cafés produzidos em sua área rural e em partes de municípios vizinhos.

Ambos os casos reforçam o papel do estado de São Paulo na consolidação de uma identidade territorial protegida e reconhecida internacionalmente.


Indicação Geográfica importa — e muito

Valorização econômica e reputação

Segundo o Sebrae, produtos com IG podem alcançar até 20% de valorização adicional no mercado.
Além do ganho financeiro, o selo certifica autenticidade e origem controlada, abrindo portas para mercados premium, exportações e parcerias sustentáveis.

Na prática, o produtor passa a vender mais do que café: vende história, tradição e confiança.

Proteção legal e combate às falsificações

Com a IG concedida, o nome geográfico passa a ter uso restrito aos produtores certificados, conforme a Lei nº 9.279/1996.

Expressões como “Café da Nova Alta Paulista” ou “Café de Torrinha” só podem ser usadas por quem cumpre integralmente as exigências do CET — uma medida que também reforça o combate às fraudes e falsificações, tema abordado na matéria anterior:

👉 Café falsificado avança no Brasil e ameaça saúde e tradição nacional

Governança e qualidade coletiva

A IG exige organização social.

Os produtores precisam constituir conselhos reguladores, aprovar novos membros, fiscalizar práticas e zelar pela reputação do território.

É o café como patrimônio coletivo, sustentado por normas técnicas e solidariedade produtiva.


As 14 regiões brasileiras de café com Indicação Geográfica

TipoRegiãoUFAnoModalidade
🟢 IPCerrado MineiroMG2005Indicação de Procedência
🟢 IPNorte Pioneiro do ParanáPR2012Indicação de Procedência
🟢 IPAlta MogianaSP/MG2013Indicação de Procedência
🟢 IPRegião de PinhalSP2016Indicação de Procedência
🟢 IPOeste da BahiaBA2019Indicação de Procedência
🟢 IPCampo das VertentesMG2020Indicação de Procedência
🟢 IPMatas de MinasMG2020Indicação de Procedência
🟢 IPConilon CapixabaES2021Indicação de Procedência
🟢 IPRegião de GarçaSP2022Indicação de Procedência
🟢 IPNova Alta PaulistaSP2025Indicação de Procedência
🟢 IPTorrinhaSP2025Indicação de Procedência
🔵 DOCerrado MineiroMG2014Denominação de Origem
🔵 DOMantiqueira de MinasMG2020Denominação de Origem
🔵 DOCaparaóMG/ES2021Denominação de Origem
🔵 DOMontanhas do Espírito SantoES2021Denominação de Origem
🔵 DOMatas de RondôniaRO2021Denominação de Origem

 Legenda:

🟢 IP – Indicação de Procedência: reconhece regiões com reputação consolidada pela tradição produtiva.

🔵 DO – Denominação de Origem: exige que as qualidades do produto derivem essencialmente do meio geográfico (solo, clima e saber humano).


Café pelo Brasil

Novos pleitos e expansão do mapa

Regiões como Canastra (MG), Sul da Bahia, Norte do Espírito Santo e Campos de Cima da Serra (RS) já elaboram estudos para obtenção de IG ou DO.
O movimento é sustentado por Sebrae, Embrapa, universidades e governos estaduais — todos alinhados à agenda de valorização da economia local e do consumo consciente.

“Brasis – Cafés de Origem”

O Sebrae, em parceria com associações de produtores, lançou o projeto Brasis – Cafés de Origem, que integra as regiões com IG em uma plataforma de promoção, rastreabilidade e identidade visual comum, ampliando a presença do café brasileiro no exterior.

Desafios de governança e educação do consumidor

A manutenção da IG depende do cumprimento das normas técnicas e da defesa jurídica ativa contra uso indevido do nome geográfico (arts. 192 a 194 da LPI).
Mas o maior desafio está no consumidor: reconhecer o valor da procedência e entender que cada xícara pode carregar a alma de uma região.


IG, Café e Valor

As recentes Indicações Geográficas de Nova Alta Paulista e Torrinha representam mais do que um selo: são atos de reconhecimento cultural e jurídico.

Transformam produtores em guardiões da origem, unem ciência e tradição, e fortalecem o café brasileiro como patrimônio vivo de território, trabalho e sabor.

Resta esperar que com elas venha também a qualidade desacompanhada da inacessibilidade, pois a excelência, quando apartada da inclusão, transforma o privilégio em exclusão.

Afinal, enquanto o mundo celebra o café de origem, boa parte do Brasil ainda bebe uma infusão feita com um pó escuro que não merece esse nome.


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