Sanrio supera Toyota em volume de negociações na Bolsa de Tóquio
Em maio de 2025, a Sanrio, empresa japonesa criadora da personagem Hello Kitty, ultrapassou a Toyota Motor Corp. em volume de negociações na Bolsa de Tóquio, alcançando ¥2,1 trilhões em ações negociadas contra ¥1,7 trilhões da montadora, segundo dados divulgados em 6 de junho de 2025.
Embora a Toyota mantenha a liderança em valor de mercado (¥45 trilhões contra ¥10,6 trilhões da Sanrio), o feito reafirma uma transformação econômica: os ativos intangíveis, como marcas e personagens, estão rivalizando com o capital industrial tradicional.
A marca que lucra sem produzir
Criada em 1974, a Hello Kitty dispensa fábricas e cadeias produtivas. A Sanrio movimenta bilhões de dólares por meio de licenciamento de propriedade intelectual (PI), presente em mais de 130 países com produtos como brinquedos, roupas, cosméticos e eletrodomésticos.
Em 2024, a empresa registrou crescimento de 44,9% na receita, com royalties representando quase metade do faturamento e um ROE (retorno sobre o patrimônio) de 48,6%.
O modelo de licenciamento de marca permite que terceiros usem a imagem da Hello Kitty mediante pagamento de royalties, sem custos industriais. A Sanrio aposta em parcerias globais e gestão rigorosa de marca, o que garante escalabilidade e resiliência a crises econômicas.
O mercado bilionário do licenciamento
O mercado global de licenciamento movimentou cerca de US$340 bilhões em 2024, segundo a Licensing International. Marcas como Disney, Marvel, Pokémon e Hello Kitty lideram.
No Brasil, o setor gerou cerca de R$25 bilhões em 2023, com destaque para os segmentos de brinquedos, vestuário e papelaria. No entanto, enfrenta desafios como a dependência de marcas internacionais e a baixa capacitação técnica.
Hello Kitty: controle de PI e diversificação
A Sanrio mantém controle rigoroso sobre sua propriedade intelectual, com contratos que garantem consistência visual e qualidade. A dependência da Hello Kitty caiu de 76% do lucro bruto para 30% em 2024, graças à promoção de personagens como Cinnamoroll, Aggretsuko e Gudetama.
A empresa também fechou parcerias com Alibaba, Crocs e Build-A-Bear, com destaque para o mercado americano, onde as vendas cresceram 141% no último trimestre de 2024.
Red Nose: case nacional de licenciamento
A Red Nose, criada em 1996, é um exemplo brasileiro de sucesso. A marca migrou para o modelo de licenciamento em 2002 e hoje atua com cerca de 30 licenciados, abrangendo roupas, calçados, acessórios e alimentos.
Em 2024, gerou R$150 milhões em vendas no varejo e R$12 milhões em royalties. A Red Nose busca expansão internacional com foco em gestão de PI e parcerias estratégicas.
Potencial e desafios do licenciamento no Brasil
Marcas como Turma da Mônica, Galinha Pintadinha, Flamengo e Palmeiras já utilizam o modelo, mas o mercado ainda é dominado por players internacionais.
Para crescer, é preciso investir em:
- Contratos robustos;
- Controle de royalties;
- Compliance de PI;
- Marketing cooperado;
- Combate à pirataria, inclusive usando tecnologias como IA.
Conclusão: a era dos ativos simbólicos
O caso da Sanrio mostra que ativos simbólicos têm mais valor do que bens físicos no mundo atual. A ultrapassagem da Toyota em volume de negociações é um marco da economia criativa global.
Para o Brasil, o caminho está na valorização de marcas culturais próprias, com foco em gestão de PI e expansão internacional.
Contexto jurídico e tendências futuras
A Lei da Propriedade Industrial (9.279/96) e a Lei de Direitos Autorais (9.610/98) regulam o licenciamento de marcas e personagens no Brasil.
Essas normas exigem:
- Contratos bem definidos;
- Cláusulas de royalties e padronização visual;
- Gestão eficiente da propriedade intelectual.
A crescente inserção de marcas brasileiras no mercado global é uma tendência em curso. O fortalecimento do licenciamento nacional depende de educação técnica, inovação e proteção legal eficaz.