De Luffy, o pirata sonhador de One Piece, a Ivete Sangalo, rainha do axé, do gigante financeiro Itaú à vigilante Marinha Brasileira, o verdadeiro tesouro do mundo moderno é a marca. Como o mítico One Piece, cobiçado nos mares, ela gera poder, riqueza e resiste a tempestades, mesmo com piratas sempre à espreita.
Um movimento constante, mesmo com a economia global sob tensão, guerras que não têm data para terminar e o Brasil ainda navegando instabilidades pós-eleições, que tendem a aumentar às vésperas de uma nova eleição e o Mercado, assim como o mar, segue em frente, incansável e indiferente àquilo que decide não lhe dizer respeito e disposto a contornar ou destruir o que se colocar em seu caminho.
A Vida Não Para!
Tudo acontece ao mesmo tempo! Das luvas criadas pelo goleiro do Botafogo de Ribeirão Preto à marca própria e bilionária Drogasil, das questões da Nintendo, que batalha em tribunais contra emuladores e clones digitais, do Itaú e até da Ivete Sangalo à Operação Trade Dress, da Polícia Civil do Distrito Federal, desmontando um esquema de mais de R$500 milhões até o Mar Vermelho, onde a Marinha Brasileira lidera missões contra pirataria original ou pirataria raiz, como se diz hoje em dia, comandando até fev. 2026 a CTF-151, Combined Task Force 151, uma força multinacional das Combined Maritime Forces. E teria mais, se isso já não provasse o ponto.
Marcas que Mudam Destinos (Para Melhor)
VS Luvas: o goleiro que virou gestor de marca
Na pandemia, Victor Souza, goleiro do Botafogo de Ribeirão Preto e a esposa criaram a VS Luvas. Produção no Paquistão, vendas online, estoque no escritório de casa e como resultado foram mais de 15 mil pares em cinco anos. Quando uma lesão tirou o goleiro de campo por oito meses, a marca segurou a família.
No futebol, uma defesa salva o dia; na vida, uma marca pode salvar bem mais do que o ano.
Needs: A Marca Própria que Rende Bilhão
A Raia Drogasil decifrou a matemática da marca própria: mais controle, mais margem, mais fidelidade. Para quem não está familiarizado, trata-se da estratégia em que o varejista coloca seu nome em produtos fabricados por terceiros, o que lhe dá poder de escolha sobre fornecedores, preços e qualidade.
Em 2023, o braço de private label projetou faturar R$ 1,3 bilhão, sendo que a linha Needs respondeu por cerca de 70% desse resultado. Agora, aposta na geração Z com a linha Needs SOS Acne — adesivos, gel e hidratante — vendida exclusivamente em suas redes Raia e Drogasil.
No varejo de saúde cheio de genéricos, ter uma marca foi uma ótima ideia.
E, se você tem uma coisa boa, esteja preparado para brigar por ela
- Itaú x “Itaúna” (setor financeiro) — O Itaú foi à Justiça contra quatro empresas que usam “Itaúna”. Argumento: semelhança fonética e atuação no mesmo segmento, com risco de confusão. Houve liminar proibindo o uso; segundo a defesa da Itaúna/Nomos, mas, a liminar foi suspensa. O processo segue tramitando.
- “Ivete Clareou” x Grupo Clareou — A 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP rejeitou pedido do Grupo Clareou para barrar a turnê “Ivete Clareou”, sob o entendimento que o registro do grupo não lhe garantia o direito de uso exclusivo do sinal “Clareou”. A Ivete Sangalo poderá fazer os cinco shows do projeto, que fazem referência a cantora Clara Nunes e homenageiam o samba. O processo continua tramitando.
No mundo das marcas, o “parecido” é culpado até provar distinção.
Pirataria: o meme que vira boletim de ocorrência
Cosméticos falsos: Operação Trade Dress
A PCDF, Polícia Civil do Distrito Federal, apreendeu mais de 50 mil frascos de perfumes e cosméticos irregulares em operação que investiga rede que movimentou mais de R$ 500 milhões. Além do dano às marcas, há risco direto à saúde, pois, foram fabricados sem qualquer controle e, aparentemente, com ingredientes tóxicos.
A CORF, Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, à Propriedade Imaterial e a Fraudes, da PCDF, e o FNCP, Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade, estimam perdas de R$ 468 bilhões ao Brasil em 2024, com R$ 21 bilhões no setor de perfumaria e cosméticos.
Nem tudo são flores no setor de cosméticos e perfumaria…
Nintendo x modchips: US$ 2 milhões e site fora do ar
Nos EUA, a Nintendo venceu ação contra o site Modded Hardware (Ryan Michael Daly), que vendia modchips do Switch.
O acordo judicial estipulou US$ 2 milhões em indenização e injunção permanente, com fechamento do site em 5.set.2025.
Na rede, o pirata também afunda, às vezes com domínio e tudo.
E a Marinha Brasileira o Luffy com isso?
Em 6.set.2025, o Brasil assumiu o comando da CTF-151, Combined Task Force 151, uma força multinacional das Combined Maritime Forces, composta por 47 países, que combate pirataria, tráfico e pesca ilegal no Mar Vermelho, Golfo de Áden, Mar Arábico e Golfo de Omã. O mandato vai até fev.2026.
No alto-mar, pirataria não é aventura: derruba carga, rouba, sequestra e mata. Encarece seguros, corrói a logística e espalha prejuízo em escala global. A conta chega cedo ou tarde e de forma democrática, seja no frete de um container ou no preço do remédio na farmácia. Tudo mundo paga.
Não por acaso a contrafação herdou o mesmo nome. Pirataria no mar ou no mercado é sempre crime violento: enriquece poucos e distribui perdas para muitos. Nada de romântico, nada de heroico.
O Capitão Luffy, em One Piece, pode ser o herói, mas, isso não deve distorcer nossa visão sobre a pirataria.
Na vida real, não há heroísmo nem romantismo: só crime. É o lucro de uns poucos sustentado pela violência e pelo prejuízo que, implacavelmente, recai sobre os mais vulneráveis — porque, no fim, são sempre eles que pagam a conta.
A lógica é a mesma das drogas: produzidas, transportadas e vendidas em cenários de miséria, para depois serem consumidas – com exceção às mais viciantes, danosas e baratas – em ambientes de conforto. Quem, de fato, lucra e se beneficia com tanta degradação? E o que há de belo ou nobre nisso? Nada.
One Piece
Do fim ao cabo, a marca e os outros ativos de Propriedade Intelectual são o One Piece: o tesouro que garante poder, riqueza, sustento e o futuro. Como todo bem valioso, será sempre cobiçado e atacado por piratas de ocasião. E, se como cantou Lenine, o mundo continua girando cada vez mais veloz, estes bens continuam sendo pontos de referência, imutáveis e que, também por isso, merecem e precisam ser defendidos.
Vamos em frente, porque, mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, a vida não para.