Café falsificado avança no Brasil e ameaça saúde e tradição nacional

Café é a 2ª bebida mais consumida do país, mas fraudes se multiplicam. Entenda o que é o “café fake”, os riscos à saúde e como reconhecê-lo.

O Brasil exporta o melhor café do mundo, mas, muitas vezes, bebe o pior. Enquanto grãos finos seguem para Itália, Japão e Estados Unidos, serragem e cascas moídas abastecem parte do consumo interno sob o disfarce do chamado “café fake”.

O golpe é bem embalado: pacotes com rótulos falsos, aroma sintético e aparência convincente. Por trás do cheiro familiar da manhã, há uma fraude que ameaça a saúde pública e mancha um dos maiores símbolos culturais do país.

O café é a segunda bebida mais consumida pelos brasileiros, atrás apenas da água. Está presente em 97% dos lares, segundo a Abic. Mas nem sempre o que se serve na xícara é o que se pensa.

Nos últimos meses, a Anvisa determinou o recolhimento de lotes contaminados e embalagens falsas. Em São Paulo, a Polícia Civil descobriu fábricas clandestinas com toneladas de pó adulterado. Em Osasco (SP), em agosto de 2025, dois suspeitos foram presos com 275 kg de café “Pilão” falsificado, uma mistura de impurezas e restos. Infelizmente, não foram casos isolados, mas de uma situação que tem se repetido com frequência preocupante.


O que é “Café Fake”

“Café fake” é qualquer mistura vendida como café puro, mas que contém materiais estranhos. Em vez de grãos torrados e moídos, o consumidor recebe um coquetel de sobras, que pode incluir cascas, polpas em excesso, serragem, galhos, terra e até grãos de outras espécies moídos com aromas artificiais para simular sabor e cor.

A Portaria SDA nº 570/2022, do Ministério da Agricultura e Pecuária, estabelece o padrão oficial de classificação do café torrado e tolera até 1% de impurezas naturais — o que, convenhamos, já não é reconfortante. Acima disso, é fraude, logo, crime contra o consumidor, conforme a Lei nº 8.137/90 e a Lei nº 8.078/1990.

O Brasil responde por cerca de 40% da produção mundial de café, segundo a Embrapa Café. A proliferação de falsificações internas ameaça uma reputação construída em séculos de tradição.


Como reconhecer o Café Falso

  1. Teste da água: o café verdadeiro afunda rápido; o café adulterado boia ou demora a submergir.
  2. Embalagem: desconfie de erros de ortografia, preços muito baixos e QR Codes inativos.
  3. Ingredientes: o café puro deve conter apenas “grãos torrados e moídos”. Qualquer aditivo indica irregularidade.

Denuncie

Suspeitas devem ser enviadas à Abic, com fotos da embalagem e local da compra:
denuncias@abic.com.br

Também é possível registrar queixa no Procon estadual ou municipal.


Recomendação

Compre marcas com Selo de Pureza Abic, verifique rótulos e denuncie suspeitas.
O problema é real, mas as fiscalizações da Anvisa, do Mapa e da Polícia Civil estão intensificando ações em 2025.


O Sabor Amargo da Fraude

O drama do café falsificado é um retrato cruel do país que produz o melhor e bebe o pior. Enquanto o grão nobre viaja para as xícaras de Milão, Tóquio e Nova York, parte dos brasileiros começa o dia com um “chá de cascas moídas” aromatizado artificialmente.

A falsificação não rouba apenas o paladar, mas a dignidade de uma tradição que ajudou a erguer a economia e moldar a identidade nacional. Entre a excelência da lavoura e o pó adulterado, há um abismo de descuido, impunidade e desrespeito.

O país que ensinou o mundo a apreciar café precisa, agora, defender o direito de saborear o próprio — verdadeiro, puro e honesto como o trabalho de quem o cultiva.


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