O renascimento dos mísseis brasileiros, a disputa por Alcântara e a nova soberania tecnológica do Brasil no século XXI
A SOBERANIA INVISÍVEL DO BRASIL: quando poder se mede em código-fonte, não em blindados.
O Brasil redescobre sua soberania — e ela não desfila em tanques
O Brasil vive um dos momentos mais decisivos de sua história tecnológica recente — mas quase ninguém está vendo. Após décadas de erosão silenciosa, o país volta a reconstruir sua capacidade autônoma em tecnologia militar de mísseis.
A soberania que emerge hoje não está nos desfiles, na infantaria ou nos arsenais visíveis. Está no código-fonte, nos softwares embarcados, nos algoritmos de guiagem, nos segredos industriais e nas patentes críticas que dão vida aos sistemas de defesa.
É a soberania invisível, tão ou mais valiosa do que petróleo, nióbio ou ouro — e que, se perdida, não se recompõe em uma geração.
A história que quase esquecemos: o Brasil já foi potência militar emergente
Nos anos 1980 — historicamente ontem — o Brasil figurava entre os maiores exportadores de armamentos do Sul Global.
- A ENGESA vendia blindados ao Oriente Médio.
- A EMBRAER exportava o Tucano para dezenas de forças aéreas.
- Havia uma cadeia industrial integrada, completa e nacional.
Era um projeto de país: hardpower real + diplomacia + autonomia tecnológica.
O colapso veio com desmonte institucional, hiperinflação, pressões geopolíticas e perda de prioridade estratégica no pós-Guerra Fria. O Brasil desmontou sua própria base industrial de defesa e pagou caro por isso. Mas parte do patrimônio sobreviveu:
- O KC-390, que rompeu a hegemonia do Hércules.
- O Tucano, agora adaptado para operações anti-drone.
- E a quase aquisição da Embraer pela Boeing — enquanto o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) avançava. Isso teria sido um desastre irremediável para o Brasil.
Nada disso foi coincidência. Embraer e Alcântara estavam no mesmo tabuleiro geopolítico.
Alcântara e a vulnerabilidade jurídica da PI militar brasileira
Alcântara é o melhor ponto de lançamentos do planeta. Isso, por si só, já desperta cobiça geopolítica. O problema do AST é simples de explicar e difícil de engolir:
- Ele protege integralmente a tecnologia americana em solo brasileiro.
- Mas não protege integralmente a tecnologia brasileira em operações conjuntas.
E conhecimento militar pode ser extraído sem violar um único lacre com varredura espectral, análise de telemetria aberta, leitura de assinaturas térmicas, inferências de performance balística etc. Com isso, uma potência estrangeira pode mapear capacidades nacionais sem tocar na propriedade e sem infringir o acordo.
O Brasil carece de um marco robusto de proteção à PI Militar. Essa lacuna nos expõe no único lugar onde um país nunca deveria estar vulnerável: dentro do seu próprio território soberano.
PI militar: o novo território estratégico da soberania nacional
Na guerra moderna, o que decide conflitos não são arsenais, mas sistemas. Um míssil sem software de guiagem é um projétil. Um caça sem arquitetura embarcada é uma carcaça. Um satélite sem criptografia é um alvo. Tudo o que faz um armamento ser inteligente — e letal — é propriedade intelectual.
Os três pilares jurídicos dessa blindagem invisível:
- Patentes: revelam e protegem a engenharia estratégica.
- Direito Autoral de Software: protege o “cérebro” dos vetores inteligentes.
- Segredos Industriais: guardam o conhecimento sensível que não pode ser publicado.
Sem esses escudos jurídicos, não existe soberania real.
Hardpower também é Softpower — e PI é o elo invisível
Porta-aviões, caças furtivos, submarinos nucleares e mísseis hipersônicos não servem apenas para a guerra. Servem para posicionar países no imaginário global de poder.
É o conceito de Softpower derivado do Hardpower: influência que nasce da percepção de força, não do uso da força. E essa percepção de força, pode até nascer da aparência externa, mas, só se mantém graças à tecnologia embarcada. Como se vê, o relacionamento entre as nações e as pessoas é bem mais parecido do que se imagina. Assim:
- Um míssil só projeta poder se sua guiagem for soberana.
- Um caça só produz influência se de última geeração e sua arquitetura não for dependente.
- Uma base como Alcântara só impõe respeito se sua tecnologia e a dos vetores for protegida.
A política internacional sempre foi a do “big stick” e Roosevelt apenas verbalizou sua implemantação, nada novo, pois, um provérbio que já era natino na época antigo já ensinava: “fale macio e carregue um grande porrete”.
A PI militar é o elo perdido entre poder real e projeção global.
A reconstrução silenciosa: Mac Jee, SIATT e AVIBRAS retomam o protagonismo
1. Mac Jee
Adquiriu toda a propriedade intelectual dos mísseis MAR-1 e MAA-1B — códigos-fonte, algoritmos, documentação, engenharia e arquitetura embarcada.
2. SIATT
Assumiu o projeto MANSUP, uniu-se ao grupo EDGE (Emirados Árabes) e entrou em uma cadeia global de defesa de alta complexidade.
3. AVIBRAS
Guardou e evoluiu o sistema ASTROS 2020, agora avançando para munições guiadas.
Esse trio forma a linha de sobrevivência tecnológica do Brasil — reconstruindo não apenas hardware, mas principalmente inteligência embarcada.
A soberania que o Brasil enfim enxerga — e precisa proteger
Por décadas, o Brasil abriu mão de capacidades estratégicas. Perdeu talento, dispersou conhecimento, quase perdeu a Embraer, abandonou a Mectron, fragmentou sua indústria. Agora, finalmente, o país parecer voltar a compreender o óbvio: sem PI militar protegida, não há soberania possível.
Mac Jee, SIATT e AVIBRAS mostram que ainda existe força, método e capacidade. Nossa engenharia não desistitu. É muito para quem quase não tinha quase nada — e pouco para quem já foi tão grande.
O futuro da defesa brasileira será decidido por algoritmos próprios, software protegido, engenharia embarcada, patentes estratégicas e segredos industriais invioláveis. A nova fronteira da soberania não está nos blindados. Está no código que ninguém vê.
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