Hermeto Pascoal, o som que nem os X-Men conseguiriam copiar

Hermeto Pascoal, o “Bruxo de Alagoas” partiu aos 89 anos, deixando a música brasileira mais órfã — e o mundo, menos criativo. Entre genialidade, improviso e até polêmicas de plágio, seu som continua inclassificável.

Hermeto Pascoal, o “Bruxo de Alagoas”, partiu aos 89 anos em 13 de setembro de 2025, deixando a música brasileira desfalcada e o mundo muito menos criativo. Entre genialidade, improviso e polêmicas leves como a suposta inspiração no tema dos X-Men, seu som que mistura jazz, folclore nordestino e experimentações sonoras transcende a rótulos. Conquistou três Grammy Latinos, influenciou gerações e colaborou com ícones globais, provando que a música pode nascer de qualquer coisa — até do silêncio da natureza.

Hermeto, o Gênio que Cabia em Todos os Sons

Hermeto Pascoal, assim como sua música, não cabia em rótulos. “Mago”, “bruxo”, todos tentaram definir, ninguém conseguiu. Tocava o que estivesse à frente: um piano, uma chaleira, um berrante, o som da rua ou até um porquinho vivo em apresentações lendárias. Nascido em 22 de junho de 1936, em Alagoas, criado em Lagoa da Canoa, como albino com visão limitada, aprendeu música de forma autodidata, inspirado nos sons da natureza e do sertão.

Foi músico de Miles Davis no álbum Live-Evil (1971), onde o trompetista o chamou de “o músico mais impressionante do mundo”. Referência para Chick Corea, com quem se apresentou no Festival de Jazz de São Paulo em 1978, e inspiração para gerações de brasileiros como Djavan, que o elogiou por estar “sempre à frente, pela liberdade com que fazia sua música”.

Hermeto era mais que músico: era educador involuntário. Quem o via tocar entendia que a vida pode ser melodia, sem imposições ou partituras rígidas. Sua discografia inclui mais de 30 álbuns, como Slaves Mass (1977), Cérebro Magnético (1980) e Mundo Verde Esperança (2003), onde explorava harmonias universais e improvisos coletivos.

O Caso X-Men: Plágio ou Homenagem?

Nos anos 1990, fãs notaram a semelhança entre a composição “Papagaio Alegre“, do álbum Lagoa da Canoa (1984), e o tema clássico da animação X-Men: The Animated Series (1992), composto por Ron Wasserman.

O assunto virou debate online e em redes sociais: seria plágio, coincidência ou inspiração? Hermeto declarou que enxergava variações, reconheceu que “esse compositor conhece minha música”, mas afirmou que não considerava algo para se irritar: “Deixem isso para lá, não esquentem a cabeça com isso.”

Ron Wasserman, conhecido por temas de séries como Power Rangers, já enfrentou acusações semelhantes em outros casos, tema semelhante envolvendo a obra de György Vukán, não Hermeto.

Não houve ação judicial contra os X-Men, mas o episódio ressurgiu em 2024 com o revival X-Men ’97, reacendendo discussões sobre influências culturais cruzadas.

Um Gênio que Foi Inspiração Antes de Ser Celebrado

Na juventude, Hermeto já era chamado de “o albino do som” nas bandas do Nordeste, começando aos 8 anos com flauta e sanfona. Ganhou palco com Elis Regina no Montreux Jazz Festival de 1979, tocou ao lado de Airto Moreira — que o introduziu aos EUA —, e lotou salas pelo mundo sem jamais abandonar a raiz sertaneja de Lagoa da Canoa. Era capaz de improvisar uma sinfonia com um liquidificador ou garrafas, como em performances icônicas que misturavam humor e profundidade.

Sua carreira internacional decolou nos anos 1970, com turnês na Europa e EUA e três Grammy Latinos, além de contribuições em projetos coletivos. Hermeto via o silêncio como sagrado e inalcançável, inspirando-se na natureza para criar “músicas universais” que dialogavam com o cosmos.

A Morte que Não Cala o Som

Hermeto morreu em 13 de setembro de 2025, aos 89 anos, no Rio de Janeiro, vítima de fibrose pulmonar, após internação no Hospital Samaritano Barra. No momento exato de sua partida, seu grupo estava no palco, tocando em homenagem a ele.

O corpo foi velado em uma cerimônia pública no dia 15 de setembro, no Areninha Cultural Hermeto Pascoal, no Rio, com comoção nacional e internacional. Tributos vieram de todas as partes como o de Caetano Veloso, que o chamou de “gênio absoluto“.

Nas redes, fãs lamentaram a pouca cobertura midiática, comparando-a à atenção dada a celebridades estrangeiras.

Nem o Silêncio Apaga um Gênio

O corpo de Hermeto Pascoal foi cremado na manhã do dia 16 de setembro de 2025, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Hermeto ensinou que música não tem partitura fixa, é diálogo entre o som e a vida. Destoava em sua música e em seu comportamento, é improvável que ouçamos novamente, seja para bem ou para o mal, alguém tão talentoso dizer: “sou músico, não vendedor de disco“.

Seu som, continuará a inspirar quem busca liberdade na arte, sua obra não se transformará em cinzas.

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